SEBASTIÃO RIBEIRO
A visita do ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao Exterior, inclui a negociação da instalação de uma fábrica russa de veículos blindados no Rio Grande do Sul. De sexta a quarta-feira da próxima semana, Jobim estará na Rússia, onde se encontrará com representantes da estatal Rosoboronexport, que centraliza a exportação de material bélico.
Negociadores da empresa estiveram três vezes no ano passado no Estado, onde conversaram com a governadora Yeda Crusius, segundo informações da Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais (Sedai). Nesses encontros, embora não tenham divulgado valores, manifestaram a possibilidade de instalar uma unidade para produção de dois tipos de blindados. Um dos modelos seria o jipe Gaz Tiger, fabricado pela Gaz, uma das principais montadoras russas.
Expedito Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora, explica que esse veículo blindado é mais indicado para uso policial, embora possa ser utilizado pelo Exército. Bastos acredita que, se houver decisão do governo de renovar a frota militar, haveria mercado para a instalação de uma unidade no país.
O Brasil conta com 409 blindados Cascavel (comporta quatro pessoas e é uma opção para reconhecimento de terreno e apoio a operações) e 223 Urutus (para transporte de tropa, com capacidade de 12 combatentes). Boa parte desses veículos estaria deteriorada e fora de operação. A produção, das décadas de 1970 e 1980, é da brasileira Engesa, que fechou suas portas em 1995.
- O Exército está defasado. A demanda para veículos (blindados) de rodas ultrapassa 2 mil - diz Bastos.
Pólo metalmecânico gaúcho está entre os pontos fortes
O pesquisador, no entanto, considera estranho que o Brasil negocie a vinda da fábrica russa após ter assinado, em dezembro, contrato com a Fiat/Iveco a fim de que a empresa desenvolva um protótipo de veículo para substituir a atual frota de Urutu e Cascavel. Se for fechado acordo com a Rússia, estudiosos de temas ligados à Defesa concordam que o Rio Grande do Sul tem vantagens competitivas.
Nelson Düring, analista de assuntos militares do site Defesa.Net, lembra que o Estado tem um pólo metalmecânico e automotivo na região de Caxias do Sul que facilmente poderia fornecer matéria-prima para a produção de carros militares.
Quando estiveram no Estado, os russos alegaram que algumas empresas gaúchas já exportavam peças para indústrias de veículos bélicos. Outra vantagem do Rio Grande do Sul seria a proximidade com países do Mercosul, para onde os blindados poderiam ser exportados.
No centro da viagem de Jobim, que começou ontem, pela França, está o sonhado submarino nuclear brasileiro. O Brasil negocia a possibilidade de comprar um submarino francês que serviria de modelo à construção de um exemplar brasileiro.
Além do submarino francês, a comitiva também conhecerá os aviões de caça Rafale, uma das opções para substituir os Mirage utilizados pela Força Aérea Brasileira. Outra tratativa diz respeito à possibilidade de helicópteros franceses de transporte serem fabricados no Brasil.