WASHINGTON - O Irã suspendeu seu programa de armas nucleares em 2003, em meio a pressões internacionais, indicou um novo relatório de agências de inteligência norte-americanas. A revelação contraria um outro documento dos próprios serviços secretos, com data de 2005, segundo o qual Teerã estava trabalhando de forma contínua para construir uma bomba.
No entanto, o Irã continua a enriquecer urânio e poderia ter combustível suficiente para construir uma bomba entre 2010 e 2015, se decidir retomar seu programa de armas nucleares, disse um funcionário de alto escalão do serviço de inteligência.
As conclusões do novo relatório podem ter uma grande influência nas tensas negociações internacionais para fazer com que o Irã suspenda seu programa de energia nuclear. Elas foram divulgadas em meio à campanha presidencial nos Estados Unidos, onde uma possível ação militar contra o Irã vem sendo discutida. O novo relatório sugere que o Irã é suscetível à pressão diplomática, já que o uso de diplomacia foi eficaz em conter as ambições nucleares iranianas.
"A decisão de Teerã de suspender seu programa de armas nucleares indica que o país está menos determinado em desenvolver armas atômicas do que acreditamos desde 2005", disse o relatório, de 16 agências norte-americanas de espionagem, divulgado ontem.
Segundo as agências, as reais intenções reais do Irã sobre a construção de armas nucleares ainda não são claras, mas as decisões de Teerã são guiadas mais pela política de custo-benefício do que pelo ímpeto de obter uma arma sem levar em conta os custos políticos, econômicos e militares.
"A combinação de ameaças de um maior escrutínio internacional e pressões, junto à oportunidade para o Irã de obter segurança, prestígio e alcançar seu objetivo de manter uma influência regional podem - se vistos pelos líderes iranianos como verossímil - levar Teerã a ampliar a atual suspensão de seu programa de armas nucleares", de acordo com o relatório.
O novo documento foi divulgado justamente cinco anos após um relatório profundamente equivocado concluir que o Iraque possuía programas de armas químicas e biológicas e estava determinado a retomar seu programa nuclear. O relatório levou o Congresso norte-americano a autorizar a invasão do Iraque, apesar de a maioria das conclusões ter sido, mais tarde, considerada errada.
O assessor de Segurança Nacional, Stephen J. Hadley, divulgou comunicado dizendo que o relatório continha novidades positivas, em vez de refletir erros de inteligência. Os EUA e outras potências ocidentais acusam o Irã de desenvolver em segredo um programa nuclear bélico. O governo iraniano nega, assegura que suas usinas atômicas têm fins estritamente pacíficos de geração de energia elétrica e já declarou em diversas ocasiões que não pretende interromper suas atividades nucleares.
Pactos
Países do Golfo Pérsico e o Irã deveriam estabelecer pactos regionais de segurança e econômicos sem influência estrangeira, disse ontem o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em sua primeira participação no Conselho de Cooperação do Golfo (GCC, na sigla em inglês). "Pedimos por paz e segurança sem qualquer influência estrangeira", conclamou Ahmadinejad em seu discurso inaugural na reunião do GCC em Doha.
"Propomos o estabelecimento de pactos econômicos e de segurança e instituições entre os sete estados do conselho. Os pactos deveriam servir ao povo de nossa região mais do que nunca", disse o radical presidente iraniano, convidando os líderes do Golfo a irem à Teerã para discutir suas idéias. Ele também propôs uma cooperação conjunta na área nuclear, incluindo o treinamento de cientistas do Golfo no Irã.
Foi a primeira vez que um líder iraniano foi convidado a participar da cúpula anual do GCC, que ocorre desta vez na capital do Qatar. Em uma mostra de amizade, o rei saudita Abdullah entrou na reunião de mãos dadas com Ahmadinejad e com o sultão Qaboos, de Omã. Diante de uma crescente pressão ocidental sobre seu controvertido programa nuclear, o Irã está ansioso por melhorar suas relações com os países do Golfo Pérsico. Também participam da cúpula que se encerra hoje os chefes de Estado do Bahrein, Kuwait, Omã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos (EAU).