PARIS - Os governos de Brasil e França assinaram ontem à tarde, em Paris, o primeiro acordo da política de "aliança estratégica" no setor de Defesa. A iniciativa havia sido confirmada à imprensa pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, no domingo. Ontem, porém, um acordo que prevê a livre circulação de militares dos dois países foi assinado com o ministro francês, Hervé Morin.
Minutos antes, Jobim havia sido recebido pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, no Palácio do Eliseu. Durante 30 minutos, ambos encaminharam acordos que serão anunciados na Guiana Francesa, em 12 de fevereiro, durante o primeiro encontro entre os presidentes dos dois países.
O acordo foi confirmado na saída do Ministério da Defesa da França. Hervé Morin disse que os entendimentos são fruto de conversas diretas entre Nicolas Sarkozy e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e que seu objetivo maior é a parceria estratégica em cultura, economia, educação, treinamento e tecnologias militares.
"Após o encontro entre os dois presidentes, vamos aprofundar o acordo. Queremos que o Brasil seja o maior parceiro estratégico da França na América Latina, assim como queremos que a França seja o parceiro estratégico do Brasil na Europa", enfatizou. "Estamos convencidos de que o mundo do século 21 terá o Brasil como potência".
Apesar da assinatura, os detalhes do acerto anunciado ontem ainda não foram divulgados. "São questões técnicas que precisam ser ajustadas. Daremos mais detalhes a seguir", disse Nelson Jobim.
Um dos pontos será o intercâmbio de pilotos para treinamento.
O Ministério da Defesa brasileiro também se mostra interessado em aplicar diretrizes do programa Soldado do Futuro, desenvolvido pelas forças armadas da França. O documento não prevê a construção de bases militares nos dois países nem treinamento na região amazônica, como vinha sendo cogitado.
Hoje pela manhã, a comitiva do Ministério da Defesa, incluindo o ministro Jobim e o comandante da Marinha, almirante de esquadra Julio Soares de Moura Neto, visitarão a base aeronaval de Dugny, em Le Bourget, nas imediações de Paris. De lá, os representantes brasileiros partem em avião para Toulon, no sul da França, onde conhecerão a base de submarinos instalada na cidade.
Lá, Jobim conhecerá o submarino nuclear de ataque (SNA) de Classe Rubi, de propulsão e armamento nucleares. O equipamento, fabricado pela DCNS - estaleiro de capital do Estado (75%) e da Thales (25%) -, é similar ao que o governo brasileiro ambiciona construir no Brasil a partir do acordo para compra e transferência de tecnologia, negociado entre os dois países.
A idéia do ministério é produzir no Brasil o casco, o "recheio cibernético" e o armamento, já que as Forças Armadas têm o domínio do combustível nuclear. A eventual "versão brasileira" do Rubi, um dos mais compactos submarinos nucleares do mundo - com 73,60 metros e capacidade para 70 homens -, não será um submarino de ataque, mas de defesa.
Em linhas gerais, a diferença se limita ao armamento - as embarcações de defesa têm armamento convencional, e não nuclear. A Marinha francesa tem seis modelos Rubi em operação desde os anos 80 - o projeto data dos anos 70. Mas ele não é o mais atual projeto em estudos no país.
Por encomenda do governo, feita em 2002, a DCNS já desenvolve os submarinos da Classe Barracuda, em construção desde 19 de dezembro de 2007 e com lançamento previsto para 2016. A importância do interesse brasileiro pelos submarinos franceses pode ser medida por dois elementos: serão duas as visitas da comitiva a locais onde se encontram os Rubi e os Barracuda, a primeira hoje e a outra amanhã, ao estaleiro da DCNS em Cherbourg, situado na Baixa Normandia.
O segundo e mais forte elemento é o próprio ministro da Defesa. Na segunda-feira, em entrevista concedida em Paris, Jobim afirmou: "Queremos construir o submarino nuclear brasileiro. E a parceria com a França está definida porque é o único país que tem disponibilidade de transferir tecnologia".