Nem só de questões ambientais o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, tratou em sua visita a Brasília. Ele aproveitou o encontro com o presidente Lula, ontem no Palácio do Itamaraty, para reiterar um antigo pedido: o envio de tropas brasileiras a Darfur quando cessar o conflito no Sudão. Preocupada com a crescente relutância das potências em colaborar com missões de paz, a organização pede ajuda a nações emergentes.
“A ONU tem uma visão extremamente positiva sobre a atuação brasileira nas missões de paz. A participação na Minustah (Haiti) é um sucesso. O Brasil também está comprometido no Timor Leste e na Libéria, entre outras missões”, comentou um integrante da comitiva de Ban, ressaltando que o pedido só será formalizado quando o conflito cessar. Desde 2003, calcula-se que a guerra entre rebeldes e Exército matou mais de 600 mil e obrigou 2 milhões a fugirem.
No entanto, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o pedido “não é uma coisa muito específica”. Foi uma maneira de reiterar a relutância do governo brasileiro, que cogita apenas uma participação logística, como o envio de helicópteros e assistência médica.
Para o Itamaraty, a presença de militares pode comprometer o bom relacionamento com a Liga Árabe, da qual o Sudão faz parte. Já a cúpula militar brasileira avalia que seria operacionalmente complicado atuar na região.
Lula não perdeu a oportunidade de destacar velhas reivindicações: cobrou maior apoio logístico e financeiro da ONU para a missão de paz no Haiti, liderada pelo Brasil, e voltou a pedir a inclusão do Brasil entre os membros permanentes do Conselho de Segurança. Ban não se pronunciou sobre os pedidos.
Enquanto aguarda a reforma da ONU, o governo brasileiro sugeriu a criação de um grupo consultivo paralelo ao Conselho de Segurança, para ser ouvido em casos de conflitos. “Seria útil o secretário-geral ouvir líderes, além do trabalho formal que é desempenhado pelo Conselho”, explicou Amorim. De acordo com o ministro, Lula comentou o impasse entre israelenses e palestinos e disse que países como Brasil, África do Sul e Índia podem ajudar na busca de uma solução. Fontes diplomáticas relataram que o presidente criticou os EUA, acusando-os de serem ao mesmo tempo “atores” e “mediadores” dos problemas no Oriente Médio. (SA)