Ananda Rope
BRASÍLIA - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reúne-se amanhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a fim de discutir o reajuste dos vencimentos militares. Vão bater o martelo sobre os índices entre 27,62% e 37,04% na remuneração bruta, que depois serão apresentados à equipe econômica do governo. “Começamos as conversas na quarta-feira.
Tenho reunião marcada com o presidente às 16h”, confirmou Jobim ao ser abordado por O DIA logo após visita ao Hospital das Forças Armadas (HFA), no Distrito Federal.
“Primeiro é com o presidente da República, para montar um desenho, para depois conversar com os demais”, esclareceu, em referência aos colegas da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo.
A reunião de amanhã substitui a que Jobim havia anunciado para quarta-feira passada, quando não pôde comparecer à audiência com Lula e o ministro Paulo Bernardo. Na ocasião, não tratou do reajuste porque foi surpreendido pelo anúncio do fim das atividades da companhia aérea BRA, que deixou no chão 70 mil passageiros e colocou 1.100 funcionários em aviso prévio.
Conforme revelou ontem a Coluna Força Militar, o adiamento do encontro irritou praças e oficiais, sobretudo porque o Ministério da Defesa não emitiu nenhum comunicado de justificativa.
No encontro de amanhã, Jobim vai apresentar a Lula a proposta de divisão do aumento em duas parcelas: a primeira, retroativa a setembro deste ano, e a segunda, em setembro de 2008. Como o encontro é na véspera do aniversário da Proclamação da República, há grande expectativa de que a negociação seja acelerada, de modo que o aumento seja oficializado na data cívica, bem ao gosto dos quartéis.
Para a presidente da Unemfa (União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas), Ivone Luzardo, antes tarde do que nunca: “Esperamos que não fiquem só nos estudos, mas que cheguem a um denominador comum”, disse.
Sucateamento, desprestígio e estocadas
O encontro com Lula acontece três dias após reportagem especial de O DIA ter apontado os baixos soldos militares associados ao sucateamento dos armamentos, tanques, aviões e navios como um dos motivos para deixar o Brasil em estado de inferioridade em relação a países vizinhos, como a Venezuela e o Chile.
A indefinição sobre o aumento fez o ministro receber estocada até mesmo de antigos aliados, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Em discurso na Câmara Federal, na sexta-feira, o deputado ironizou a demora para a definição do aumento. “No dia 24, o ministro visitará a Academia das Agulhas Negras para acompanhar a formatura de aspirantes e provavelmente dirá em seu discurso: ‘Parabéns, vocês agora estão ganhando menos do que um soldado da PM de Brasília’. Isso é humilhante”, destacou.
Ontem, na visita ao Hospital das Forças Armadas (HFA), Jobim ficou sabendo que há carência de 996 profissionais na unidade. Segundo a assessoria de imprensa, a visita faz parte de um plano maior, que incluiu vistoria do ministro ao Hospital das Forças na Amazônia.
No HFA, Jobim foi recebido por comissão de militares das três Forças e contornou um constrangimento: em reunião no mês passado com mulheres de militares, ele ficou em maus lençóis, ao demonstrar desconhecer o significado da sigla e a situação da unidade.
Recrutas ainda sem índice
Os estudos da Defesa que serão levados a Lula prevêem reajuste dos vencimentos dos recrutas e têm, como exemplo-base, que o valor bruto pago aos aprendizes de marinheiro vai subir de R$ 600 para R$ 800 por mês. Assim, os aprendizes, posto inicial do grupo de praças especiais, terão reajuste de 33,33%. Os recrutas ganham hoje R$ 207, sem sofrer descontos. Para eles, não foi apontado um índice, mas garantido que sua remuneração está em análise.
O estudo aponta para alterações nos “percentuais do adicional militar (pago de acordo com círculo hierárquico ao qual o militar pertence) de forma a que, ao final, os militares tenham um acréscimo no rendimento bruto entre 27,62% e 37,04%”, conforme O DIA antecipou no dia 1º. A idéia é que vencimentos menores tenham reajuste maior. A medida se estenderá a inativos e pensionistas, dando início a uma política de recuperação dos soldos.