Um radar para "assar" europeus?

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Marcelo Rech - InfoRel

Em meados de agosto, uma equipe de peritos da agência norte-americana de defesa de míssil esteve na República Tcheca examinando o local onde deverá ser construído um radar dos Estados Unidos, nas proximidades da cidade de Misov, distante 90 Km de Praga.

Ficou clara a falta de transparência de Washington quanto ao desdobramento de elementos do seu sistema de defesa de míssil na Europa, uma questão sensível que segue alimentando rumores, principalmente quando à conveniência de um radar dos Estados Unidos na República Checa.

Eu mesmo já escrevi sobre a oposição majoritária da população daquele país quanto aos planos norte-americanos, por várias razões, inclusive pelos danos que essa estratégia já causa às relações com a Rússia, isso sem contar os prejuízos ao meio ambiente e à saúde das pessoas.

Os radares modernos constituem uma fonte poderosa da emissão eletromagnética, que afeta pessoas, plantas e animais. As pessoas já se expõem a esse tipo de emissão com o uso cada vez mais popular dos fornos de microondas ou telemóveis.

Pois bem, um radar é uma espécie de enorme forno de microondas permanentemente aceso, que emitem raios eletromagnéticos.

Para os Estados Unidos, um radar na República Checa, serve para controlar possíveis mísseis iranianos. Esse radar terá capacidade para monitorar o Irã de uma altura de 5 mil quilômetros.

Além disso, os Estados Unidos também pretendem controlar as atividades de mísseis desde o território russo, o que significa que Washington terá de aumentar o alcance do radar e, conseqüentemente, a força da sua emissão, o que multiplica várias vezes a sua capacidade de causar danos às pessoas, animais, fauna e flora.

Por isso, os militares sempre buscaram manter radares em áreas despovoadas.

A ex-União Soviética, por exemplo, construiu enormes telas metálicas protetoras a uma distância de segurança dos seus radares como forma de proteger as pessoas das emissões.

A República Checa está situada no coração da Europa, numa área densamente povoada e os Estados Unidos pretendem instalar um radar a menos de 100 km de Praga.

A população checa acredita que os Estados Unidos terão problemas e serão obrigados a construir uma tela em volta do radar, com custos até seis vezes maiores que os soviéticos tiveram. Além disso, a entrada em funcionamento de um radar é comparável com o consumo de eletricidade de uma cidade de porte médio.

Não podemos esquecer que os Estados Unidos defenderam a suspensão de um radar russo justamente por sua ameaça ao meio ambiente como um todo.

Recentemente, emergiram relatórios numerosos sobre os danos causados pelo radar russo arrendado no Azerbaijão, numa área situada a mil metros acima do nível do mar.

Por outro lado, a direção da emissão eletromagnética exclui a possibilidade de se atingir áreas povoadas e o radar no Azerbeijão trabalha no alcance de metro, que, segundo os peritos, não produz raios perigosos a saúde como os que utilizam a freqüência de microondas na alcance de centímetro, caso dos radares dos Estados Unidos.

Também no Azerbaijão, os norte-americanos não compartilham dados dos seus radares nem com o governo e menos ainda com o ministério do Meio Ambiente local.

Os checos temem lidar com uma realidade semelhante. Por exemplo, a cerca de dois quilômetros da terra de prova onde o radar pode ser desdobrado, há uma aldeia. As pessoas realizam protestos periódicos denunciando as ameaças sobre tais emissões.

Por enquanto, os Estados Unidos ou as autoridades de Praga não se pronunciaram nem forneceram qualquer informação acerca dos perigos dessas emissões.

No final, ninguém quer sentar-se perto de um enorme forno de microondas.

Marcelo Rech é jornalista, editor do InfoRel e especialista em Relações Internacionais e Estratégias e Políticas de Defesa.

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