Putin mostra os dentes
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Ameaças aos Estados Unidos provocam desequilibrio nas fronteiras de U.E.
Como resposta à decisão por parte dos Estados Unidos de instalar em solo de antigos países do Pacto de Varsóvia sistemas anti-míssil - que a Rússia encara como resultado de um posicionamento agressivo por parte da administração americana – a Rússia decidiu apresentar o pré-aviso de retirada do tratado CFE, que limita e delimita o numero de veículos militares dos países europeus.
Embora a «ameaça russa» não esteja directamente relacionada com as proporções de veículos militares em presença na Europa, mas sim com a política externa dos Estados Unidos, há alguns pontos no posicionamento da Rússia que merecem ser vistos com atenção e que explicam a tomada de posição daquele país.
O tratado CFE foi um tratado negociado em 1990 e que tinham em vista reduzir a enorme desproporção de meios militares blindados que existia entre a NATO e o Pacto de Varsóvia.
O tratado, assinado quando Partidos Comunistas ainda governavam em alguns países da Europa de Leste e antes da fragmentação da União soviética, organizava não só o numero de veículos militares para cada um dos blocos, como além disso determinava que o numero de veículos militares seria menor à medida que se estivesse mais próximo da fronteira entre eles.
Isto implicava por exemplo, que países como a Roménia ou a Bulgária, porque estavam geograficamente mais afastados do centro da Europa podiam dispor proporcionalmente de maior numero de blindados.
Ocorre que com o passar dos tempos, não só a Roménia e a Bulgária passaram a fazer parte da NATO, como também se juntaram à NATO países como a Polónia e mais significativamente os estados do Báltico, Estónia, Lituânia e Letónia.
É assim que com a adesão destes novos países a outro dos blocos militares europeus o tratado CFE teve que se novamente interpretado, porque a linha divisória na Europa Central moveu-se para leste e os «anéis concêntricos» que delimitavam as áreas onde poderiam ser colocados os tanques e veículos blindados moveram-se igualmente na direcção da antiga União Soviética.
Esta modificação, que teria como objectivo reduzir o numero de veículos militares próximos à linha divisória entre a NATO e a Rússia (em posição que pudesse permitir que qualquer dos lados pudesse efectuar operações militares em profundidade) não aconteceu ainda, porque países como a Roménia e a Polónia, não alteraram o numero de veículos blindados disponíveis, mantendo ainda em reserva muitos dos seus veículos militares.
É também esse não cumprimento do tratado CFE que a Rússia agora utiliza como argumento para o denunciar, pesando embora o facto de a própria Rússia embora cumprindo grande parte do tratado não cumprir algumas das suas cláusulas, nomeadamente aquelas que têm a ver com o numero de veículos colocados nos chamados flancos norte e sul.
Consequências:
Para já as consequências serão mínimas, mas a longo prazo a Rússia terá as mãos livres para aumentar o numero de veículos blindados colocados na Rússia europeia.
O exército russo tem ainda em serviço números consideráveis de equipamentos militares do tempo da guerra fria que poderão vir a ser substituídos por novos veículos, ao mesmo tempo que os mais antigos poderão continuar operacionais, ou prontos para entrar em serviço enquanto a Rússia incorpora novos veículos nas suas forças terrestres[1]
Os países europeus, que cada vez contam com menos apoio por parte dos Estados Unidos não parecem estar em posição de pensar qualquer resposta nos mesmos termos, dado considerarem que a Rússia não tem hoje em dia nenhum tipo de interesse agressivo relativamente à Europa, como se julgava que fosse possível durante a guerra fria.
Já a Rússia, que sempre teve complexos de «cerco» relativamente aos seus potenciais aliados, parece continuar a ter dúvidas, nomeadamente no que respeita a alguns dos novos países da NATO, os quais, sendo antigos membros do Pacto de Varsóvia, são mais pró-americanos que os membros mais antigos.
O tratado CFE, é uma das principais razões que levou exércitos como o alemão a reduzir de forma dramática o numero de carros de combate operacionais, que chegou a atingir 2.000 unidades, limitando-os a apenas algumas poucas centenas. Países como a Holanda passaram de quase meio milhar de tanques para pouco mais de uma centena enquanto que a Bélgica por exemplo, pura e simplesmente não tem já um único tanque nos seus arsenais.
Embora destinada principalmente a responder a uma tomada de posição por parte da administração Bush, a «retaliação» Russa acaba por se concentrar unica e exclusivamente na Europa. O aumento do preço do petroleo e o cada vez maior ascendente da Russia sobre os países do centro da Europa (especialmente a Alemanha) não deixam de ser preocupantes para alguns analistas europeus, que temem que numa nova versão da Guerra Fria, toda a Europa Central se transforme em «refém» dos russos.
[1]O tratado CFE diz respeito a veículos militares, nomeadamente carros de combate de infantaria, unidades de artilharia rebocada e autopropulsada e também de tanques.