O comandante da Marinha, almirante Júlio Soares, foi à Comissão de Defesa Nacional do Senado e, entre outras coisas, anunciou o tenebroso velório da Marinha brasileira, assegurando que o estado de abandono da frota fará com que o Brasil deixe de ter Marinha em 2025. Os navios têm idade média de 50 anos e essa situação, para um país que dispõe de milhares de quilômetros de costas, é mais grave do que se pensa. Essa é a situação da Marinha. Não se sabe se a do Exército é semelhante, mas o Brasil não desconhece a gravidade do que ocorre em seu espaço aéreo, certamente caótico e lamentável.
Ao mesmo tempo, com mais de 14 mil quilômetros de fronteiras desguarnecidas, fica fácil a entrada de armas pesadas para a bandidagem, inexistem dificuldades para o ingresso de drogas e de traficantes internacionais que aqui estabelecem suas bases. Toda essa situação de descalabro facilita o aumento da tensão nas metrópoles, faz prosperar o tráfico, intensifica a guerra urbana e provoca a matança de centenas de pessoas todos os meses, ao som de discursos vazios e de promessas estéreis.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, não parece preocupado com nada disso, já que sua atenção está voltada para a distância entre as poltronas dos aviões comerciais. Um ministro da Defesa deve pensar a segurança nacional, deixando a solução do caos aéreo para o presidente da Infraero. O governo não se lembra que mais de 90% do comércio chegam e saem do Brasil pelo mar, que 80% do petróleo vêm por vias marítimas, que a perda do controle das fronteiras ameaça severamente a harmonia nacional. A falta de navios de guerra coloca tudo em risco e acena para a criação de uma tragédia nacional.
O Brasil tem o quinto maior espaço aéreo do mundo e a terceira maior costa do planeta e tem a Amazônia cobiçada internacionalmente, cuja defesa será feita pela Marinha, ou não será feita. O governo parece não saber que a construção de um navio demora cinco anos e a elaboração de estratégias consome uma década. Assim, enquanto nada se faz, permanecem inseguros e intranqüilos os 14 mil quilômetros de fronteiras a serem preservados e protegidos não apenas de governos estrangeiros.
Devem ser protegidas porque, em algum momento, a migração internacional pode ameaçar a estabilidade brasileira, com a mesma intensidade com que entram armas e drogas. A cobiça internacional por recursos naturais também entra por elas e tudo funciona como se as portas ficassem apenas encostadas.
O governo abandona as Forças Armadas como se fôssemos uma nação pequena, a exemplo do que fez a Costa Rica. O presidente Luís Inácio Lula da Silva fala em potência com base no Produto Interno Bruto (PIB). É claro que o PIB é bom indicador, mas mais importante do que isso é a capacidade de produzir mais amanhã, e isso não temos. Em curto espaço de tempo, o PIB será criado pela ciência e pela tecnologia e, como sempre, precisará ser defendido por Forças Armadas preparadas e competentes. A verdade de tudo isso: dos 21 navios existentes, 11 estão imobilizados e o restante opera com restrições. É o que temos.