Visitamos no dia 11 de junho o novíssimo navio de projeção e comando (BPC - Batiment de Projection et de commandement) Tonnerre, que realiza uma escala oficial no Rio de Janeiro.
Nada melhor que comemorar a data magna da Marinha do Brasil (data comemorativa da Batalha Naval do Riachuelo) a bordo de um moderníssimo navio de guerra. Em se tratando do Tonnerre, irmão mais novo do Mistral adquirido pela marinha francesa em 2006, estamos falando do terceiro maior navio da frota francesa, equipado com as melhores inovações tecnológicas e capacidades para as operações anfíbias e para o comando de operações interforças.
Sob o comando do capitão-de-mar-e-guerra Philippe Hello, desde que foi comissionado no dia 28 de fevereiro, o Tonnerre não tem tido descanso. O navio deixou sua base em Toulon no dia 10 de abril para um "cruzeiro de testes" de 14 semanas e não voltará para casa antes de 24 de julho. Depois da escala no Canadá, que serviu para verificar o funcionamento dos sistemas do navio em temperaturas muito baixas, o Tonnerre visitou os Estados Unidos em maio, para testes de interoperabilidade com a US Navy. O navio recebeu a bordo os pesados helicópteros MH-53E Super Stallion, helicópteros MH-60 e veículos LCACs (Landing Craft, Air Cushion).
Depois do Canadá e Estados Unidos, passou pelas Antilhas francesas, Rio de Janeiro e, ao final da escala, prosseguirá com destino à Cidade do Cabo, na África do Sul e depois para Dakar, no Senegal. No seu retorno à França o Tonnerre deverá ficar docado por duas semanas e depois partirá para um exercício com a OTAN no Adriático. O navio já tem comissões programadas para todo o ano de 2008.
A visita
Ao avistarmos o Tonnerre pela primeira vez no porto do Rio de Janeiro ficamos impressionados pela altura do navio e pelo seu imenso costado. Mais impressionados ficamos no entanto com o espaço interno do navio: a sensação que se tem é de estar a bordo de um luxuoso navio de cruzeiro!
Isto ocorre por dois motivos: o primeiro é que ele foi construído seguindo padrões da International Maritime Organization, representando uma nova combinação entre tecnologia civil e militar; e o segundo é influência de um dos estaleiros que participaram na construção, o Chantiers de l’Atlantique de St. Nazaire, que tem uma longa tradição na contrução de navios de passageiros, incluindo o Queen Mary 2.
O principal objetivo de se empregar padrões civis na construção do Tonnerre e de seu irmão Mistral é a redução de custos, tanto na construção quanto na operação dos navios. A redução é da ordem de 40%, tendo os dois navios custado 650 milhões de euros (US$ 875 milhões).
O navio é extremamente espaçoso, com corredores largos e altos, em contraste com os corredores estreitos e apertados dos navios da marinha americana. O cabeamento e as tubulações ficam na maior parte ocultos por painéis beges, causando uma ótima impressão visual.
O espaços vazios no navio algumas vezes parecem desperdício, mas têm uma razão de ser: ele foi desenhado para operações conjuntas com o Exército, que necessita sempre de muito espaço para equipamentos. Os amplos corredores permitem que fileiras de soldados equipados possam cruzar pelo corredor sem baterem uns nos outros, acelerando as operações de embarque e desembarque. O Tonnerre foi projetado para transportar 450 soldados totalmente equipados e, em situações de emergência, mais de 700 pessoas podem ser acomodadas, numa evacuação em operações humanitárias ou de resgate de nacionais em zonas de conflito.
Segundo o comandante Hello, que foi nosso guia durante a visita ao Tonnerre, a qualidade de vida é um fator chave na construção do navio e por isso os tripulantes tem que trabalhar mais, pois é uma grande motivação para eles.
Os marinheiros ficam acomodados em confortáveis alojamentos de 4 beliches e um banheiro, permitindo ao navio receber tripulações mistas. As tropas embarcadas ficam em alojamentos de 6 beliches e banheiro, mas mesmo assim bastante confortáveis.
A bordo existe um lounge, um salão de jogos, salão de ginástica, uma sala de leitura, um bar, todos com sofas e cadeiras e dispositivos de projeção e som, e até uma capela, para os mais religiosos.
Navio-hospital
O Tonnerre é praticamente um navio-hospital, com uma enfermaria de 69 leitos, salão de triagem, dois centros cirúrgicos, um centro de tratamento de queimados, uma sala de telecirurgia, equipamento de radiologia e tomografia.
A qualidade de vida foi pensada no navio, mas também a capacidade de salvar vidas: o Tonnerre é praticamente um navio-hospital, com uma enfermaria de 69 leitos, salão de triagem, dois centros cirúrgicos, um centro de tratamento de queimados, uma sala de telecirurgia, equipamento de radiologia e tomografia.
Em tempo de paz o navio leva um médico e duas enfermeiras. Mas em casos extremos o hangar do navio pode ser convertido em hospital de campanha, com a inserção de módulos para prover mais quatro centros cirúrgicos e acomodar mais cem pessoas da equipe médica, incuindo 12 cirurgiões.
A razão de ser do navio
A missão é principal do Tonnerre é a de ser um porta-helicópteros de assalto anfíbio. Para isso o navio é capaz de transportar até 16 helicópteros NH90 ou Tigre (ou 35 Gazelle) e pode receber helicópteros de até 30 toneladas na sua proa, como o CH-53E Super Stallion. Aviões STO/VL como o Harrier II podem pousar no navio em caso de necessidade. Ele também possui uma doca alagável para até quatro embarcações de desembarque ou dois LCAC.
O modernos displays coloridos do centro de informações de combate (CIC) do Tonnerre
A auto-defesa do Tonnerre é leve, com dois sistemas Simbad Mistral, canhões de 30mm e metraladoras .50. Um navio como o Tonnerre se garante na defesa dos navios-escolta e dependendo da área de operação, até um navio-aeródromo é necessário para protegê-lo.
Uma outra característica importante no Tonnerre é a racionalização e economia de mão-de-obra. Apenas 167 pessoas são suficientes para fazer funcionar o navio. A maior parte das funções é automatizada: apenas 3 homens são necessários para carregar os mantimentos para uma missão, pois as câmaras frigoríficas ficam próximas às portas de carga e ligadas por guindastes rolantes controlados remotamente. O navio consegue sair do porto com apenas 9 pessoas no controle, sendo três no passadiço!