Situação internacional e afirmação estratégica são motores do processo
Área Militar
O programa do submarino movido a energia nuclear para a Marinha do Brasil, parece nos últimos dias ter decididamente sofrido um novo sopro ou alento com declarações não só de ministros e entidades militares como o comandante da marinha alm. Moura Neto, como também do próprio presidente do País, Lula da Silva.
Desde há bastantes anos que dentro da própria marinha brasileira há várias correntes de opinião sobre quais as prioridades na defesa naval do país, que passam por um sector que dá primazia à esquadra de superfície e outro que dá essa primazia ao aumento da capacidade submarina do Brasil.
Entre os que defendem a capacidade submarina, há também os que dão prioridade a uma arma defensiva baseada em submarinos convencionais e outra ala que dá preferência à construção pelo Brasil de uma pequena força de submarinos movidos a energia nuclear.
Nos últimos tempos, a arma submarina convencional recebeu um considerável impulso, com a anunciada aquisição pelo Brasil de um submarino do tipo U-214, que é um dos mais sofisticados submarinos convencionais do mundo, mesmo não tendo o Brasil optado por adquirir aquele submarino com o novíssimo sistema AIP que permite que o submarino fique submerso durante semanas, sem emergir.
Quando foi apresentada a opção por um contrato que incluía um submarino U-214 sem o recurso ao sistema AIP, isso foi visto como resultado da pressão do grupo favorável ao submarino nuclear, receando que o investimento num sistema moderno mas convencional pudesse enterrar definitivamente o projeto brasileiro de submarino nuclear, que dura já há quase 20 anos sem que tenham ocorrido grandes desenvolvimentos.
Em Brasília em declarações à imprensa, sobre o programa SNB (Submarino Nuclear Brasileiro) fontes do Ministério da Defesa e da marinha brasileira afirmam que se trata de uma opção estratégica já antiga.
O próprio Presidente da República concordou com o almirante Moura Neto, comandante da marinha afirmando que a conclusão do programa nuclear da marinha é importante e que representa um extraordinário progresso no campo da ciência e da tecnologia.
Se o presidente parece em sintonia com o chefe da marinha, em Brasília, deputados e senadores também comentam o fato, mas em declarações extra-oficiais, outras versões circulam.
Entre outras, comenta-se que a possibilidade que agora se apresenta de dar um impulso ao programa, tem muito mais a ver com questões de geo-estratégicas na América do Sul, que com as necessidades operacionais da marinha.
O fator Chavez, poderá ser neste momento um dos principais senão o principal motivo por detrás das mudanças que se têm verificado nas posições do governo sobre os programas militares.
Em Brasília nas últimas semanas a temperatura esteve muito alta quando Hugo Chavez fez acusações despropositadas ao Congresso, dando a entender que se tratava de uma entidade ao serviço de Washington.
Lula, que estava no exterior lançou panos quentes no gelo e pediu que Hugo Chavez tratasse da Venezuela que ele tratava do Brasil, mas para muitos deputados e senadores mal estava feito. Em Brasília ouvem-se comentários dizendo coisas como “...O Brasil tem que se dar ao respeito...” e que por isso alguma coisa tem que ser feita.
A Venezuela tem vindo a desenvolver uma política externa agressiva que não só se baseia em insultos contra Washington, mas que também pretende aparecer junto das opiniões públicas da América Latina, como o líder do continente, aproveitando para isso suas compras militares, como a recente aquisição de aeronaves Su-30.
A afirmação militar da Venezuela, falando «grosso» e mostrando músculo, funciona no continente e agrega em torno da Venezuela países que de outra forma não seguiriam as políticas de Chaves e esse alinhamento, é objetivamente negativo para o Brasil.
Os desenvolvimentos dos últimos dias podem significar que Brasília está enviando recados para os seus vizinhos.
A mensagem que o Brasil enviará para os seus vizinhos, é a de que nenhum país da América Latina tem capacidade para produzir submarinos e muito menos para produzir um submarino movido a energia atômica.
O Submarino Nuclear Brasileiro, é o melhor argumento para os militares apresentarem a deputados, senadores e ao próprio governo como forma de afirmação de poder.
O eventual futuro submarino, sendo ou não construído é um fato político importante e uma carta a jogar pelo Brasil. Se devidamente promovido e organizado, o programa nuclear brasileiro poderá ser o mais claro recado a Hugo Chaves e para as opiniões públicas dos países da região sobre quem é, agora e no futuro, o país que lidera o continente sul americano.