Críticos alertam para risco de estimular guerra civil no Iraque; segundo "New York Times", estratégia visa combater Al Qaeda
Plano já foi testado em regiões de Província sunita, diz jornal; grupos incluídos em negociações já fizeram ataques contra americanos
DO "NEW YORK TIMES"
Com a estratégia de aumentar em 30 mil os soldados no Iraque iniciada pelos EUA há quatro meses mostrando pouco êxito em refrear os ataques de insurgentes, os comandantes americanos no Iraque estão adotando um plano que admitem ser repleto de riscos: armar grupos árabes sunitas que prometem combater militantes ligados à Al Qaeda que antes foram seus aliados.
Comandantes americanos dizem que já testaram a estratégia com sucesso na Província de Anbar, no oeste do país, e que mantiveram conversações com grupos sunitas suspeitos de ataques a unidades americanas ou ligados a eles em ao menos quatro outras áreas nas quais a insurgência se mostra forte. Em alguns casos, dizem os comandantes americanos, esses grupos foram abastecidos com armas, munições, dinheiro, combustível e outros equipamentos, geralmente por meio de unidades militares iraquianas aliadas às forças americanas.
Autoridades americanas que participaram do que descrevem como "gesto de aproximação" com grupos sunitas dizem que os grupos em questão, em sua maioria, têm vínculos com a Al Qaeda mas estão desiludidos com as táticas extremistas aplicadas pela rede terrorista, especialmente as explosões suicidas que já mataram milhares de civis iraquianos.
Em troca do apoio americano, dizem essas autoridades, os grupos sunitas concordaram em combater a Al Qaeda e suspender os ataques contra unidades americanas. Os comandantes que empreenderam essas negociações afirmam que, em alguns casos, grupos sunitas concordaram em avisar tropas americanas da localização de bombas improvisadas e outros artefatos explosivos.
Mas críticos da estratégia, incluindo alguns oficiais americanos, dizem que ela pode significar que os americanos estarão armando ambos os lados numa futura guerra civil.
Retirada
Os EUA já gastaram mais de US$15 bilhões para equipar o novo Exército e a polícia do Iraque, cujo contingente de 350 mil homens é majoritariamente xiita. Com a probabilidade cada vez maior de uma retirada parcial das tropas americanas em 2008 e poucos sinais de entendimento entre políticos xiitas e sunitas em Bagdá, há uma grande possibilidade de que quaisquer armas entregues a grupos sunitas acabem por ser usadas contra xiitas.
Comandantes em campo dos EUA se reuniram neste mês em Bagdá com o general David Petraeus, comandante-em-chefe das forças americanas no Iraque, para discutir as condições que os grupos sunitas teriam que satisfazer para poder receber assistência americana. Segundo oficiais de alta patente que participaram da reunião, a negociação com os grupos foi aprovada com condições.
Um participante da reunião disse que, apesar dos riscos de armar grupos que até agora combateram as forças americanas, os ganhos potenciais na luta contra a Al Qaeda são grandes demais para serem ignorados. Segundo ele, após três anos de esforços quase infrutíferos das forças americanas, a estratégia tem o potencial de finalmente provocar uma divisão entre duas alas da insurgência sunita que até agora formaram uma aliança devastadora: os seguidores leais radicais do partido Baath, de Saddam Hussein, antiga força dominante no país, e militantes ligados à Al Qaeda.
Mesmo que a estratégia tenha êxito apenas parcial, disse o oficial, ela pode ter efeito tão grande ou ainda maior no sentido de estabilizar o Iraque e acelerar o retorno para casa das tropas americanas. Por enquanto, os planos americanos têm surtido pouco efeito, com as mortes de civis e militares no país batendo recordes.
Tradução de CLARA ALLAIN