Enquanto a maioria dos países da Europa Oriental já iniciaram recentemente programas de modernização para seus caças MiG-29, a Ucrânia ainda está tentando escolher uma solução ótima para recapacitar suas aeronaves. Isso pode acontecer em breve, uma vez que um programa de modernização está sendo discutido para ser iniciado logo. Além de uma possível participação da MiG Corp. e uma provável participação de algumas indústrias ucranianas, empresas estrangeiras como a francesa Sagem e a israelense IAI também estão sendo consideradas como candidatas no projeto. No entanto, esses planos – assim como programas de modernização limitados que envolvam apenas a indústria ucraniana – podem não ir em frente, principalmente devido à falta de financiamento.
A Ucrânia possui a maior frota de aeronaves MiG-29 na federação russa, excluindo a Rússia. No início de 2003, 181 MiG-29s foram contados no inventário da Força Aérea Ucraniana. No entanto, o número de aeronaves que estavam verdadeiramente operacionais não era tão impressionante: estimativas demonstram que apenas 52-58% da frota total estava disponível para serem empregados em 1993. Por volta de 1998, toda a frota de MiG-29’s ucranianos poderia ter sido paralisada quando os motores atingiram o limite de sua vida útil. Mas a extensão da mesma – feita sem um acordo com os fabricantes russos do MiG-29 – e a implementação de overhauls de nível médio em instalações ucranianas, permitiram que a Força Aérea da Ucrânia mantivesse o numero de aeronaves operacionais em cerca de 34-39% entre 1996 e 1998. Ao mesmo tempo, não mais que 8% dos Fulcrum ucranianos foram considerados aptos para realizar missões de combate.
O trabalho realmente conduzido nas instalações ucranianas para manter a frota de MiG-29’s em condições de vôo dificilmente pode ser considerado eficiente. Por exemplo, a NPO Gart baseada em Zaporozhye recebeu cerca de US$ 200.000,00 por ano em 2000 e 2001 para a supervisão de engenharia das operações das aeronaves Sukhoi e MiG, assim como dos motores RD-33. No entanto, o custo de manutenção completa de um único motor RD-33 pode chegar à US$ 500.000,00, e é, portanto, bastante duvidoso que os fundos alocados tenham tido qualquer impacto, especialmente considerando que foi pulverizado entre um grande número de programas.
Problemas similares surgiram com o armamento que os MiG-29 Fulcrum ucranianos utiliza. As aeronaves são armadas com mísseis guiados, canhão e bombas e foguetes não guiados. A produção em série do míssil ar-ar R-27 (AA-10 Alamo) é realizada pela empresa ucraniana Artyom; no entanto, nenhuma entrega à força aérea do país foi jamais realizada, especialmente tendo em conta o vasto estoque herdado da União Soviética. Outro míssil ar-ar usado pelas aeronaves – o R-73 (AA-11 Archer) – é produzido na Rússia, e nenhuma compra desses mísseis foi até agora realizada. De tal forma, o período de garantia de armazenamento e operação de todos os mísseis guiados para os MiG-29’s ucranianos já expirou, mesmo antes de um possível prolongamento da vida útil em serviço das aeronaves ter sido considerado.
Uma longa escolha
A modernização da frota de aeronaves MiG-29 tem sido discutida pelos militares ucranianos há cerca de 10 anos; no entanto, uma decisão final ainda não foi tomada. Apenas durante os últimos 18 meses, o ministro da defesa ucraniano, Anatoly Gritsenko, mencionou a possível participação de diversos parceiros estrangeiros nos projetos. Em particular, a israelense IAI foi citada nesse contexto, incluindo a possibilidade de um projeto independente entre ucranianos e israelenses, sem a participação da MiG Corp. Além disso, Gritsenko fez elogios a respeito de um projeto de modernização do MiG-29 desenvolvido pela 559ª Instalação de Manutenção de Aeronaves de Belarus, e também pediu pela implementação, no programa ucraniano, da tecnologia de modernização empregada nos F-4’s turcos. Como resultado, o ministro da defesa do país planeja anunciar uma concorrência para a modernização dos caças ucranianos.
De acordo com o plano, as atividades primárias de modernização envolverão a melhoria e modernização dos aviônicos, instalação de um novo radar e extensão do alcance das armas, aumento da autonomia e um aumento na capacidade de carga. As propostas mais sérias para a modernização dos Fulcrum’s ucranianos foram feitas pelo escritório de projetos Russkaya Avionika (uma subsidiária da Irkut Corporation), pela francesa Sagem e pela divisão LAHAV do grupo israelense IAI. As opções russa e francesa estavam mais ajustadas de acordo com os ambiciosos planos dos militares ucranianos, enquanto a proposta israelense cobria apenas a modernização dos aviônicos e a introdução de armas ocidentais.
Todos os concorrentes propuseram envolver empresas ucranianas nas atividades de modernização. A produção de novos radares projetados pela russa Fazotron-NIIR é possível de ser feita na fábrica ucraniana da Novator em Khmelnitsky. A Sagem também propôs iniciar a produção sob licença de seus equipamentos na Ucrânia, com a possibilidade de usá-los também na modernização de outros tipos de aeronaves. A IAI se ofereceu para conduzir a modernização dos MiG-29’s na 117ª Instalação de Manutenção de Aeronaves em Lvov.
No entanto, nenhum progresso além das declarações públicas foi feito até agora, devido à simples falta de fundos. O orçamento do Ministério da Defesa da Ucrânia para 2006 continha pouco mais de US$ 40 milhões para o desenvolvimento de equipamentos militares e compra de armas (US$ 6,7 milhões e US$ 38 milhões, respectivamente). Devido a essa realidade, o Ministério da Defesa está desenvolvendo um projeto chamado “modernização limitada” para ser realizado por empresas ucranianas, no entanto, o futuro desse projeto ainda não está claro.
Por seus próprios esforços
O Ministério da Defesa ucraniano voltou sua atenção para o projeto de modernização limitada pela segunda vez. Inicialmente, ele foi discutido em 2002-2003. De acordo com as autoridades ucranianas, a definição técnica das aeronaves modernizadas já foi desenvolvida. Até então, a idéia não era acompanhada de qualquer resultado prático devido à falta de fundos para o orçamento. O projeto parecia ter sido retomado e o Ministério da Defesa já planejava iniciar os trabalhos no final de 2006 ou início de 2007. No entanto, mais uma vez, esses planos provavelmente não seguirão em frente devido aos fundos limitados. Uma modernização limitada realizada por grupos ucranianos poderia ser mais aceitável do ponto de vista financeiro e poderia aumentar o potencial técnico das empresas ucranianas. O projeto deveria ser realizado nas instalações de manutenção de aeronaves em Lvov, que trabalha sob o comando do Ministério da Defesa e conduz os overhauls para os MiG-29’s. Também seria envolvida a Instalação de Manutenção de Motores Aeronáuticos de Lutsk.
O programa compreenderia a modernização parcial do radar N-019 da aeronave pela Fazotron-Ukraina. Durante discussões preliminares sobre os projetos, a Fazotron-Ukraina propôs aumentar a vida operacional do radar, assim como seus alcances de detecção e rastreio, incluindo melhorias no hardware do radar. As empresas ucranianas Electronpribor e Orizon-Navigatsiya também participariam do projeto realizando, respectivamente, a instalação do gravador de dados de vôo BUR-4 e de um sistema de navegação por satélite.
De fato, a indústria ucraniana pode resolver o problema de modernização dos MiG-29 Fulcrum da Força Aérea Ucraniana quase completamente, mas poderia ser pouco inteligente excluir do processo o escritório projetista das aeronaves. O trabalho independente poderia ser visto como violações de patente, uma vez que as documentações do projeto para recondicionamento do MiG-29 e de seus motores RD-33-2S, assim como certificados para essas operações, não foram passados para a Ucrânia. A Instalação de Manutenção de Aeronaves de Lvov realiza apenas reparos de médio nível que podem ser conduzidos sem aprovação do fabricante; o mesmo se aplica para a instalação de motores que realiza o overhaul do RD-33 para os MiG-29’s ucranianos.
Os militares ucranianos declaram que sua definição técnica atual do caça ucraniano modernizado é próxima da configuração russa do MiG-29SMT. De acordo com o memorando de entendimento – que não tem efeitos legais especiais – a MiG Corp. atualmente detêm o status de um parceiro do projeto. De acordo com autoridades do Ministério da Defesa da Ucrânia, a proposta de modernização russa é avaliada em US$ 12 milhões por aeronave. A MiG Corp. oferece modernizar a aeronave para a versão MiG-29SMT com radar Zhuk, permitindo assim uma extensão das capacidades no emprego de mísseis guiados pelas aeronaves e um aumento no alcance de detecção. No entanto, a Força Aérea Ucraniana não tem condições financeiras de bancar a proposta russa.
Também deve ser notado que qualquer uma das propostas feitas deverá acompanhar a extensão da vida útil das células e dos motores modernizados. O limite da vida útil (SLL) da célula do MiG-29 é de 20 anos, sendo de 12 anos entre reparos antes do primeiro overhaul e 8 anos após isso; o SLL do motor é de 20 anos, sendo de 8 anos antes do primeiro overhaul com prolongamento para 12 anos.
De acordo com algumas opiniões, o trabalho de projeto para um programa de modernização do MiG-29 consumirá não menos que 18-24 meses para ser preparado. Supondo que tudo ocorrerá de acordo com o planejado (e potencialmente sem a participação da MiG Corp.), a programa começaria não antes de 2007-2008. O tempo de vida restante para os mais novos MiG-29 no inventário ucraniano não excederá 3-4 anos então, e a modernização propriamente dita consumiria mais um ou dois anos. Vale a pena conduzir um empreitada tão cara resultando em uma dúzia de aeronaves modernizadas capazes de operar por mais 2-3 anos, e encarar o problema de aumento da vida útil que não pode ser resolvido sem a MiG Corp.? Além disso, uma maior integração ucraniana com os países ocidentais irá requerer uma maior participação às convenções internacionais, incluindo leis de propriedade intelectual.
Fonte: Russia & CIS Observer