Por Mark John e David Brunnstrom
Reuters
OSLO (Reuters) - Uma polêmica entre Estados Unidos e Rússia a respeito dos planos dos EUA para instalar um sistema de proteção contra mísseis no Leste Europeu agravou-se na quinta-feira com a decisão do Kremlin de suspender temporariamente a adesão russa a um importante tratado europeu sobre armas.
O presidente Vladimir Putin fez o anúncio ao Parlamento russo horas antes de funcionários da Otan e da Rússia discutirem um projeto que Washington diz não representar qualquer ameaça a Moscou.
O secretário-geral da ONU, Jaap de Hoop Scheffer, disse que pedirá ao chanceler russo, Sergei Lavrov, explicações sobre a decisão de Putin de retirar a Rússia do Tratado de Forças Convencionais na Europa (CFE, de 1990). De Hoop Scheffer também rejeitou as insinuações de Putin de que a Otan estaria ignorando o tratado.
"Espero que o chanceler Lavrov explique as palavras de seu presidente", disse ele em entrevista coletiva em Oslo, horas antes de uma reunião entre os chanceleres da Otan com Lavrov.
"Os aliados da Otan dedicam grande importância ao tratado CFE e são da opinião de que é importante que o tratado adaptado CFE seja ratificado. Há vários obstáculos no caminho, os compromissos de Istambul", acrescentou.
Ele se referia à antiga insistência da Otan para que a Rússia retire suas tropas remanescentes na Geórgia e na Moldova antes que seus membros ratifiquem a versão revista do CFE.
Esse tratado foi negociado imediatamente após o final da Guerra Fria entre os então 22 países da Otan e do Pacto de Varsóvia, a fim de permitir uma redução verificável dos equipamentos bélicos convencionais. O texto foi adaptado em 1999.
A moratória na adesão russa representa mais um ataque de Putin contra o projeto norte-americano de instalar interceptadores de mísseis na Polônia e radares na República Checa.
Putin acusou os países da Otan de ignorarem cláusulas do CFE, mas disse também que o plano do escudo dos EUA piora as coisas.
"[Os países da Otan] estão construindo bases militares nas nossas fronteiras e, o que é pior, estão também planejando estacionar elementos de sistemas de defesa antimísseis na Polônia e na República Checa", disse Putin.
"Em conexão com isso, resolvo declarar uma moratória na implementação deste tratado por parte da Rússia --seja como for, até que todos os países do mundo tenham ratificado a começado a implementá-lo rigidamente", disse Putin em seu discurso anual à Câmara e ao Senado.
"Proponho discutir este problema no Conselho Otan-Rússia, e, caso não haja progresso nas negociações, examinar a possibilidade de cessar nossos compromissos sob o tratado CFE", disse Putin.
Também na quinta-feira, a secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice, rejeitou como "puramente ridícula, e todo mundo sabe disso", a idéia de que a instalação de parte do escudo antimísseis no Leste Europeu seja uma ameaça estratégica à Rússia.
Os EUA dizem que estão cada vez mais próximos de convencer os europeus sobre o escudo, mas o vice-ministro alemão de Relações Exteriores, Gernot Erler, disse ao jornal Berliner Zeitung que seis países --a Alemanha e outros cinco não-identificados-- manifestaram dúvidas sobre o projeto durante uma reunião da Otan na semana passada.
Em entrevista coletiva ao lado de Rice, o chanceler norueguês, Jonas Gahr, disse que seu país também está cético com o projeto. "Ainda estou no modo de ouvir, e ainda preciso ser convencido sobre a ameaça (contra a qual o escudo serviria)", afirmou.
(Reportagem adicional de John Acher e Arshad Mohammed)