por Paulo Mendonça
Área Militar
O carro de combate EE-T1 Osório, representou o auge da maior indústria de armamentos da América latina. Depois da Engesa ter fechado as portas, nenhuma outra empresa com aquela dimensão voltou a aparecer.
A ENGESA remonta aos anos de 1963 e foi uma empresa privada que começou por desenvolver para o exército brasileiro, carros de combate sobre rodas, EE-9 Urutú e EE-11 Cascavel.
A indústria militar do Brasil, cresceu durante os anos 70 e durante os anos 80, colocando o Brasil no primeiro lugar entre os países em vias de desenvolvimento exportadores de armas. As principais empresas ligadas ao sector do armamento eram a EMBRAER, fabricante de aeronaves, a AVIBRÁS, fabricante de sistemas de artilharia a foguete e a ENGESA.
O carro de combate brasileiro
Uma outra indústria brasileira, a BERNARDINI, foi contratada no início dos anos 80, para modernizar a frota de carros M-41C do exército brasileiro.
Esta modificação, utilizando equipamentos brasileiros, permitiu estender a vida útil desse velho carro de combate leve (embora fosse o maior tanque ao serviço do Exército brasileiro), tornando-o num equipamento relativamente moderno.
Com esta experiência a BERNARDINI desenhou um novo tanque, que era tecnicamente parecido com o M-41C, e podia ser considerado como uma evolução deste. Uma espécie de super M-41, com canhão de 90mm de fabricação brasileira (ou o L7 de fabrico britânico e standard da NATO) e um peso de aproximadamente 26 Toneladas, o que, de qualquer forma, o qualificava como carro leve/médio. Este carro foi baptizado de Tamoyo, e correspondia ás exigências do exército do Brasil, para um carro com um peso que poderia no limite máximo atingir as 35 toneladas.
A ENGESA entra na corrida
A ENGESA, que nessa altura tinha já consideráveis negócios com países do médio oriente, especialmente com o Iraque, para onde exportou, por exemplo, o carro EE-11 Cascavel, que participou, por exemplo, na invasão do Koweit, decidiu em 1982 desenhar um carro de combate sobre lagartas, aumentando assim a sua gama de produtos.
Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita encontrava-se em fase de planejamento da substituição da sua frota de tanques franceses AMX-30, depois de o governo alemão ter recusado a venda do tanque LEOPARD-II, para países fora da área da NATO.
A empresa decidiu apresentar-se à concorrência internacional do governo Saudita, para a aquisição de cerca de 1000 tanques, com um carro de combate construído de raiz, muito mais sofisticado que o tanque Tamoyo, da BERNARDINI, e que também correspondesse ás exigências do exército brasileiro.
Surge o EE-T1
O novo tanque tinha dimensões superiores ao Tamoyo e iria competir com alguns dos carros de combate mais sofisticados do mundo.
Os concorrentes eram:
M1-A1 Abrahams : norte-americano
GIAT AMX-40 : francês
Challenger-I : britânico.
A concorrência internacional Saudita, com os problemas econômicos por que passava a economia brasileira, passou a ser vista como a forma de “salvar” o EE-T1, e ao mesmo tempo a ENGESA.
O exército brasileiro, não mostrou interesse pelo veículo, embora as suas especificações tivessem influenciado tremendamente o carro de combate. De facto, as especificações do exército brasileiro, que apontavam para a necessidade de um carro de combate, ao nível do TAM (Tanque Argentino Mediano), não previam a necessidade de um grande carro de combate.
Assim, cedo, o AMX-40 foi colocado fora de “combate”. Tratava-se de um AMX-30 com componentes mais modernos. A sua mobilidade não era muito superior. O Chalenger britânico, foi igualmente posto fora da corrida, por causa do seu principal problema, a velocidade e o seu exagerado peso. Pensado para o combate segundo as regras britânicas, que privilegiavam a proteção, o Chalenger era inadequado para as grandes extensões de deserto tão típicas da Arábia.
Restaram o M1-A1 Abrahams e o EE-T1 Osorio. O EE-T1 chegou a ser dado como vencedor, o que na altura provocou furor nos meios internacionais. A primeira vez que um carro de combate de um país fora da Europa, ou dos Estados Unidos, ganhava um grande concurso internacional.
Razões ocultas para uma derrota
No entanto, e independentemente da guerra do golfo, que alteraria toda a situação, há uma questão que poucas vezes é referida. Assim, o carro proposto pelos americanos era o M1-A1, com canhão de 105mm, enquanto que o carro brasileiro apresentava uma torre de 120mm de fabrico francês (depois de a Alemanha ter vetado a venda do 120mm Rheinmetal que equipava o Leopard-2).
Essa era a grande diferença e a principal razão pela qual o EE-T1 Osório ganhou a competição.
Os Estados Unidos, pressionados por Israel, negaram-se a propor à Arábia Saudita a venda do M1-A2, mais sofisticado e com canhão de 120mm. Então, estando interessados no carro com canhão de 120mm os Sauditas declararam o EE-T1 como vencedor, mas nunca chegaram a colocar nenhuma encomenda.
Posteriormente, os Estados Unidos acabaram aceitando fornecer à Arábia Saudita o M1-A2, acabando com as possibilidades do Osório, que acabariam definitivamente com a guerra do golfo, que deu aos Estados Unidos um argumento para autorizar a venda, mesmo com a oposição de Israel. Para a ENGESA era o princípio do fim.
Outras razões para o falhanço
Outros problemas são apontados ao projeto, que na altura parecia “vencedor”.
A imposição de peso do exército brasileiro, acabou reduzindo o tamanho do Osório a 39 tons (embora a versão de 120mm fosse mais pesada), produzindo um carro demasiado compacto.
O fato de a Alemanha não ter autorizado a venda do canhão Rheinmetal de 120mm, forçou a ENGESA a optar pela peça de origem francesa, tecnicamente inferior.
No fim o EE-T1 era um carro de combate tremendamente dependente dos fornecedores dos equipamentos que se pretendesse colocar no veículo, com um tamanho demasiado pequeno para “Carro de Combate Principal / Main Battle Tank”. Não tinha como competir com os veículos europeus e era mais caro que os carros de fabrico soviético, como o T-72 e as suas variantes, apresentando relativamente a estes, poucas vantagens.
A falta de uma visão estratégica por parte da ENGESA e a falta de apoio do governo brasileiro, que poderia ter viabilizado o projeto, a falta de um parceiro estratégico que levou a ENGESA a avançar sozinha para o projecto do EE-T1 acabaram ditando não só o fim do Osório, como o fim da própria ENGESA, que nunca conseguiu se recuperar do investimento de 100 milhões de dólares investidos no desenvolvimento do projeto.
Futuro
Embora a ENGESA tenha falido no início dos anos 90, em 2003, o exército brasileiro tornou a colocar os dois protótipos produzidos, em condições operacionais. Se isto significa algo, no sentido de produzir um eventual EE-T2, só o futuro dirá.