Ministra da Defesa viaja atrás de armamento para substituir o obsoleto equipamento de suas Forças Armadas
Ariel Palacios,
CORRESPONDENTE BUENOS AIRES
A ministra argentina da Defesa, Nilda Garré, desembarcou ontem em Paris para um tour de duas semanas por capitais européias com o objetivo de analisar as ofertas do mercado bélico. A ministra foi encarregada pelo presidente Néstor Kirchner de 'modernizar' as decadentes Forças Armadas. Kirchner conta com um superávit fiscal que lhe permitirá realizar atualizações de equipamento. Na França, Nilda analisará a compra de navios de desembarque. Ela também espera conseguir boas condições de pagamento para mísseis antiaéreos franceses. Também irá à Ucrânia e a Moscou - que deve ser o ponto principal da viagem.
Há poucos meses, Nilda reuniu-se com representantes russos em Buenos Aires para avaliar a possível compra de helicópteros MI-17 (cada um custa de US$ 4 milhões a US$ 6 milhões), que transportam até 36 pessoas, superiores aos americanos Bell utilizados atualmente pelas Forças Armadas, que só podem levar 10 pessoas.
O interesse nos helicópteros é significativo, pois 90% dos aparelhos estão sucateados. Os russos estão interessados na possibilidade de entrar pela primeira vez no mercado argentino, pensando num trampolim para o restante do Cone Sul. Até o momento, a presença russa na região ficou concentrada no Peru (tradicional comprador de armamento russo desde os tempos da ex-URSS), a Colômbia e, recentemente, a Venezuela.
A Argentina não compra armamento em grande quantidade há uma década. A última vez em que efetuou compras nesse setor foi em 1996 para receber bombardeiros A-4 reciclados dos EUA.
Motivos para sair às compras há de sobra. Além de o equipamento militar argentino estar sucateado, novas aquisições satisfariam aos militares, irritados com a política de Kirchner de investigar profundamente os crimes cometidos durante a ditadura (de 1976 a 1983). De quebra, reforçariam a imagem militar da Argentina na região, que nos últimos 15 anos se restringiu à presença em várias missões de paz da ONU.
A Argentina está longe de desatar uma corrida armamentista na região. No máximo, tentará substituir equipamento inutilizado. Os tanques são antiquados, os submarinos estão velhos, os aviões caem com freqüência e os militares contam com poucas horas de treino. Os oficiais olham com profunda inveja para os outros lados das fronteiras. No caso chileno, invejam os tanques Leopard novos em folha e o crescimento da frota de submarinos modernos. Quando olham para o lado brasileiro, suspiram de saudade do porta-aviões argentino 25 de Mayo e admiram o brasileiro São Paulo, em cuja pista aterrissam os aviões argentinos (que, pela falta de porta-aviões próprio, praticam no porta-aviões brasileiro; em troca, os pilotos argentinos, muitos veteranos da Guerra das Malvinas, treinam os pilotos brasileiros). Até as modestas Forças Armadas uruguaias são capazes de despertar uma ponta de inveja nos argentinos. Do outro lado do Rio da Prata, os pilotos contam atualmente com mais horas de vôo para treinamento.
Negociação segue o modelo Chávez
Roberto Godoy
A Argentina vai às compras e sabe onde o preço é mais baixo e as condições de financiamento são melhores. É um movimento inicial - que precede um plano de reequipamento a longo prazo - limitado a itens de segunda linha, como helicópteros russos de emprego geral Mi-17 e mísseis ar-ar, de combate aéreo, para substituir os R-530 franceses e Shafrir, israelenses, ambos no limite do prazo de validade.
O que conta, todavia, é o que virá depois. O presidente Nestor Kirchner quer abrir um programa de crédito com a indústria militar da Rússia e, eventualmente, da Ucrânia, para superar as pesadas restrições impostas pelo governo dos EUA às exportações de material de uso militar. Kirchner segue Hugo Chávez, da Venezuela, na negociação: quer uma boa linha de financiamento para gastar até 2013. O presidente venezuelano conseguiu US$ 5,5 bilhões e já gastou US$ 3,3 bilhões.
Ao assumir, Nilda Garré recebeu um relatório que define necessidades das forças argentinas. Ele destaca que só três helicópteros pesados Super Puma estão em condições operacionais. Mais: dos 300 tanques médios, menos de 40, modernizados nas fábricas de Córdoba, são considerados disponíveis.
Fonte: O Estado de São Paulo